Ciganas. Recife-Portugal




Mulheres Ciganas em seu íntimo seguem com os mesmos anseios e desejos próprios de feminino, a diferença é sua forma de exercitá-los. possibilidades e abertura. Coragem elas têm, assim como nós.



Entrevita- (mais detalhes no site do CERCI- Centro de Estudos e Resgate da Cultura Cigana)


Existem vários estereótipos instaurados no nosso imaginário social: todas as mulheres ciganas são feirantes (vendedoras ambulantes), não estudam, casam cedo e com ciganos, e são mães de famílias numerosas.
MG – Isso é tão ridículo como eu dizer que as mulheres payas portuguesas têm todas bigode e vestem todas de preto. Sempre existiram mulheres ciganas resistentes, embora não tenham sido apelidadas de feministas. A verdade é que não têm que ser apelidadas de feministas ou considerarem-se assim. Existem mulheres ciganas em todas as profissões e que estudam. Já existem muitas mulheres ciganas licenciadas e doutoradas e que não casam nem têm filhos. Ou seja, que fazem as suas escolhas e lutam por elas. Tenho, no entanto, que referir que o grande desafio é criticar as estruturas patriarcais internas e, ao mesmo tempo, tentar evitar reforçar os estereótipos negativos sobre a nossa comunidade, por exemplo, porque defendo que todas as meninas devem estudar, não posso permitir que isso seja visto pelos payos logo como: “Pois, eles não deixam as meninas estudar porque as casam muito cedo”, ou seja, evitar que as reivindicações de género se tornem um instrumento de alterização e de estigmatização de um grupo subalterno e racializado. Tenho ainda que falar aqui da interseccionalidade que mostra o cruzamento de diferentes opressões: de género, classe, “raça” e sexualidade, sofridas pelas mulheres ciganas. As formas de discriminação interagem umas com as outras, há que afirmar a consequente necessidade de uma luta plural contra o racismo, a opressão de classe e contra o machismo tanto interno, como externo às comunidades.
HF – Passava dias a falar contigo, mas temos que terminar por agora, claro, porque vamos voltar a conversar, com toda a certeza. E, para terminar, tenho que te perguntar: O que podemos nós, mulheres “brancas” feministas fazer para apoiar as mulheres ciganas?
Maria Gil (cigana ativista) – Deixar de lado o paternalismo e sobretudo valorizar a nossa voz, porque a temos, como vês. Não podem impor-nos a vossa cultura. Deixem-nos evoluir conscientemente, construir e desconstruir a nossa identidade, tornar-nos mulheres, como referiu a Simone de Beauvoir. Não nos salvem, não precisamos de ser salvas. Nós somos a semente das Mulheres e Ciganas que não foram queimadas e esterilizadas. Existimos e resistimos.

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